quinta-feira, setembro 17, 2009

‘Narciso acha feio o que não é espelho’


Esse famoso verso de Caetano Veloso remonta à história mitológica de Narciso. Um deus grego que se achava dono de tamanha beleza a ponto de se apaixonar por si ao olhar seu próprio reflexo. É possível observar um olhar egoísta. Um ponto de vista que, por vezes, impera no meio cristão. Temos dificuldade de pensar a diferença. Adaptamos o mundo de acordo com os nossos valores, nossa cultura. Existe sempre uma pedra em nossa mão esperando a primeira oportunidade, uma primeira opinião diferente que destoa de todo nosso belo mundo.
Sempre nos inclinamos a acreditar que estamos certos, que somos justos e que tudo a nossa volta deveria ser do nosso jeito. Esquecemos que o outro também carrega um mundo próprio dentro de si. Uma bagagem de pensamentos e vontades ajustados em uma personalidade própria e que cria um ser novo, singular. Todos nós somos esse ser singular. É muito interessante termos esse tipo de visão quando falamos de Missões. É necessário desenvolver certa sensibilidade ao falarmos de Cristo porque estamos fazendo uma apresentação de alguém que se interessa muito por nossos anseios e predileções e que, ao contrário do que muitos acreditam, quer usar isso ao nosso favor. Quer nos amar do jeito que nós somos... diferentes!
Jesus nos enxerga seres cheios de habilidades e talentos, imersos em algum tipo de cultura. Um ser que tem certeza que a mudança necessária vai vir, dia após dia, junto com Ele. Uma mudança que traz uma nova mente, porém, ainda nos reconhecemos. Se conseguirmos como evangelistas, vestir alguém com essa ‘roupa nova’, e ainda assim ver que é o mesmo ser único que está ali e não um produto, com várias regras e limitações que, cedo ou tarde, vai se quebrar, se conseguirmos isso, seremos como Cristo. O Salvador que chamou, da mesma maneira, a Pedro e a João. A Lucas e a Tomé. A mim e a você. Cada um do seu jeito. Com sua própria bagagem. Mas todos, igualmente, filhos do mesmo Deus.
Somos inimaginavelmente belos aos olhos de Deus. Desejo que esses mesmos olhos divinos estejam em nós pra contemplar o belo que há no outro. Senão corremos o risco de morrermos como Narciso, afogado na sua arrogância, nos seus preconceitos e discriminações. Possuímos um universo interior em contínuo crescimento. E por mais que o esse universo interior continue se expandindo, que ele jamais consiga ultrapassar o limite do respeito. Respeito pelo diferente.

Por: Julia Ângela - Militante da ABU, colunista do site Point Maceió, estudante de Direito - CESMAC/AL e Letras - UFAL

http://www.pointmaceio.com.br/colunas/Narciso-acha-feio-o-que-nao-e-espelho.html

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